Túnel do Tempo
Uma das maravilhas do blogue é servir de armazém de histórias que vão se acumulando ao longo dos anos. É claro que é um hospedeiro frágil, pois a qualquer momento o grupo que banca o servidor pode tirá-lo do ar e deixar os usuários a ver navios - ainda mais em um sistema gratuito.
Visitando o meu antigo sítio, o Balacoblog, relembrei alguns episódios que aconteceram entre 2002 e 2003. Um destes causos, aproveito para colar e copiar aqui no boteco. Foi um texto publicado no dia 11 de junho de 2002, e tenho certeza que aqueles que participaram vão lembrar desse dia!
Visitando o meu antigo sítio, o Balacoblog, relembrei alguns episódios que aconteceram entre 2002 e 2003. Um destes causos, aproveito para colar e copiar aqui no boteco. Foi um texto publicado no dia 11 de junho de 2002, e tenho certeza que aqueles que participaram vão lembrar desse dia!
Memórias recentes de um (quase) torcedor
Qualquer coisa é pretexto para a festa. Não que eu acredite que a seleção brasileira seja a melhor do mundo, nem me considero um emocionado patriota que, junto com a pátria, visto as chuteiras de quatro em quatro anos. Mas acontece que assistir aos jogos do Brasil na Copa do Mundo virou uma espécie de ritual, uma ocasião em que os amigos se reúnem para acompanhar a peleja e, é claro, beber algumas cervejas.
Foi imbuído desse espírito que baixei no Loreninha, histórico bar em frente à UERJ, na sexta-feira, véspera do jogo do Brasil contra a China. Ali já começamos a nossa “concentração” para o jogo – que só começaria muitas horas mais tarde –, abrindo as primeiras garrafas; ou, como meu amigo Chico Araripe prefere dizer, espocando a cilibina (não me perguntem o porquê do nome, cilibina não consta em nenhum dos nossos dicionários!).
A noite avança e a fome aperta. Saímos do Maracanã rumo à Tijuca pra forrar o estômago no Caçador, onde entre uma garfada e outra, continuamos a molhar as palavras com um geladíssimo chopp. Dali partimos para o nosso QG no Rio Comprido, para aguardar a hora da contenda. E tome de espocar a cilibina. Lá pelas tantas, no início do “clássico” Eslovênia e África do Sul, pedi arrego e fui procurar um canto pra dormir. No quarto ainda pude ouvir o locutor gritando um gol e o debate que se seguiu entre alguns heróis que ainda resistiam na sala. “Caramba, o gol foi de apêndice! Nunca vi gol de apêndice!”, “Tem certeza que foi de apêndice? Eu tive a impressão que foi de ilíaco...” O sono me impediu de saber como terminou a discussão.
Acordo com uma avalanche de almofadas sobre minha cabeça. Meio sobressaltado, olho pra porta e avisto Waltão, um cara que parece um gnomo árabe. “Levanta! Já são 8 horas!” Conheço a insistência e teimosia do amigo e a melhor coisa a fazer é obedecer. No banheiro, sentindo o resultado das cervejas da noite anterior estalando no meu cérebro, lembrei que o chuveiro é a gás e, o que é pior, jamais manuseei tal aparelho. “Melhor”, pensei, “assim eu desperto mais rápido”. E estava certo. A água estava tão gelada que cheguei a sentir falta de ar e tive que pular feito um canguru, até fechar a torneira, afastando qualquer resquício de sono que por ventura tivesse ficado dentro de mim. Antes de sair, encontrei um oportuno sonrisal escondido no armário.
O jogo começa e os gols não tardam a surgir. Brasil 3 - China 0, ainda no pimeiro tempo. Mas como quantidade não significa qualidade, tivemos que achar uma outra distração – malhar o Galvão Bueno. E o locutor oficial da Globo não nos decepcionou! Em um determinado momento, falou em alto e bom som: “tenho certeza, na China está todo mundo torcendo pra China!”.
No intervalo, Susana – a dona da casa e professora de nutrição – nos brindou com um maravilhoso café-da-manhã. Providencial, já que abriu caminho para o espoco de mais cilibinas. No chão da sala a nossa torcedora mais empolgada não resistiu e desabou no colo do namorado, borrando a tatuagem do jornal O Globo que havia cuidadosamente colocado no rosto.
Vem o segundo tempo e nossa equipe não conseguiu fazer mais do que um gol nos fracos chineses. Junto com o apito final veio a impressão de que o jogo foi tal e qual comida de hospital: serve para alimentar, porém falta sal e muito tempero...
Ora, mas quem se importa? Afinal de contas, pretexto é pretexto. Que venha a Costa Rica!